O Presidente da Espanha, Pedro Sánchez, acusou o governo de Israel, nesta segunda-feira (08/Set), de “exterminar um povo indefeso” na Palestina. Por meio de vídeo e publicações em redes sociais, Sánchez afirmou que bombardear hospitais e matar crianças de fome “é quebrar todas as leis do direito humanitário”, diferenciando a resposta israelense do direito de defesa anunciado em 2023 em resposta ao ataque terrorista do Hamas. A manifestação ocorre em um momento de alta tensão, com debates sobre o reconhecimento do Estado Palestino na Europa e tentativas de envio de ajuda humanitária a Gaza, declarações essas que intensificam a crise diplomática entre Israel e países da União Europeia.
Genocídio e violação de leis
Em um discurso contundente, Sánchez detalhou sua posição, afirmando que a resposta de Israel aos ataques do Hamas se transformou em uma agressão generalizada contra civis. Em vídeo, o presidente espanhol lembrou a quantidade de vítimas que envolvem mais de 2 milhões de pessoas. Dentre esses, 63 mil mortos, 159 mil feridos, 250 mil pessoas com desnutrição severa, ao que classificou de extermínio de um povo indefeso.
“O governo de Espanha acredita que uma coisa é proteger o seu país, proteger a sua sociedade, e outra, muito diferente, bombardear hospitais e matar de fome meninos e meninas inocentes. O que o primeiro-ministro Netanyahu apresentou em outubro de 2023 como uma operação militar de resposta aos atrozes atentados terroristas de Hamas acabou se tornando uma nova onda de ocupações ilegais em um ataque injustificável contra a população civil palestina. Um ataque que a Relatora Especial das Nações Unidas e a maioria de expertos já qualificam como um genocídio. Os dados falam por si sós: 63 mil mortos, 159 mil feridos, 250 mil pessoas em risco de desnutrição aguda e quase 2 milhões de pessoas desplazadas, a metade delas menores de idade. Isto não é se defender, não é nem sequer atacar, é exterminar um povo que está indefeso, é quebrar todas as leis do direito humanitário.”
A reação de Israel às declarações de Sánchez foi imediata. O governo israelense convocou a embaixadora da Espanha para uma repreensão formal e acusou o presidente espanhol de apoiar o terrorismo. A crise se aprofunda no momento em que a pressão diplomática na Europa aumenta.
Estado Palestino
Recentemente, 209 ex-embaixadores e diplomatas do bloco da União Europeia (UE) expressaram em carta sua “profunda decepção” com a falta de medidas substanciais contra Israel, o que evidenciou uma fratura na política externa do continente. Mas, o reconhecimento do Estado Palestino, em particular, divide a Europa em grupos distintos.
Em 1988 houve uma primeira onda de reconhecimento do Estado Palestino encabeçado por países da então órbita soviética como Polônia, Eslováquia, Bulgária e Romênia. No entanto, atualmente, essa herança histórica cria paradoxos, a exemplo do governo da Hungria, sob comando de Viktor Mihály Orbán, ferrenhos defensor de Israel na Europa, ou ainda da República Tcheca que minimiza o ato de 1988, o que descreve ser um reflexo da política da época e se diz favorável a reconhecer a composição de dois Estados em se nega a reconhecer unilateralmente a Palestina.
Em uma segunda onda, a Suécia também reconheceu a Palestina em 2014. Motivada por ações israelenses, e em resposta direta à ofensiva em Gaza, Irlanda e Noruega (não-membro da UE) oficializaram o reconhecimento, numa tentativa declarada de manter viva a solução de dois Estados.
Agora, uma terceira onda, para além da Espanha, outros países a exemplo. França, Reino Unido, Canadá, Portugal, Italia e Austrália sinalizaram a intenção de reconhecer a Palestina, um movimento simbólico que pode ocorrer durante a Assembleia Geral da ONU na próxima semana.
O presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou em julho que a França cumpriria seu “compromisso histórico”. Outros países como Bélgica, Luxemburgo e Malta devem seguir o mesmo caminho, embora com condições — o governo belga, por exemplo, condicionou a emissão do decreto à libertação do último refém israelense mantido pelo Hamas.
Este debate tem abalado governos, como na Holanda, que perdeu seu ministro das Relações Exteriores por divergências sobre sanções a Israel, e na Finlândia, onde o tema divide o presidente e o primeiro-ministro.
Pressão por ajuda humanitária
A situação humanitária em Gaza tem motivado diversas iniciativas internacionais de envio de alimentos e suprimentos por via marítima. O movimento de ajuda atrai ativistas globais como a sueca Greta Thunberg, artistas e personalidades políticas, a exemplo da deputada da Assembleia da República Portuguesa, Mariana Mortágua, também se somam aos tripulantes de barcos que pretende fazer chegar alimentação, assistência, um pedido de cessar-fogo e o livre acesso de ajuda humanitária ao povo palestino na região.
Cumplicidade com genocídio
Greta Thunberg acusa líderes mundiais de cumplicidade com as ações de Israel e tem sido uma voz ativa na causa e questiona ainda a passividade, ou omissão por parte da imprensa mainstream que parece fazer ‘vista grossa’ ao massacre imposto ao povo palestino e também ao assassinato de profissionais de imprensa.
“Há um genocídio. Onde está a mídia mundial para expô-lo? Onde está a mídia para denunciar o assassinato de jornalistas palestinos? Líderes e instituições mundiais estão permitindo um genocídio. Nenhum de nós é livre até que a Palestina seja livre.”, disse Greta Thumberg.
Greta Thunberg:
‘There is a genocide’
‘Where is the world media to expose it’
‘Where is media to call out Palestinian journalists being murdered’
‘World leaders and institutions are enabling a genocide’‘None of us are free until Palestine is free’ pic.twitter.com/iK7lfylkT2
— Howard Beckett (@BeckettUnite) September 8, 2025